O movimento do "eu sou capaz".
![]() |
| Imagem: pinterest |
Durante muito tempo vivi com uma crença silenciosa, mas poderosa:
“Eu não sou capaz.”
Ela não gritava — sussurrava.
Aparecia nas decisões adiadas, na autossabotagem disfarçada de prudência, na comparação constante, no medo de errar, no perfeccionismo.
E durante anos achei que aquela voz era minha.
Hoje sei que não era.
Crenças são ideias que aceitamos como verdades sobre nós, o mundo e a vida.
São aprendidas — não nascemos com elas.
Formam-se na infância, na educação, na família, na cultura e no inconsciente coletivo.
Repetidas várias vezes, tornam-se automáticas. E podem ser muito profundas.
E quando não são questionadas, passam a governar as nossas escolhas.
A crença “eu não sou capaz” é uma das mais comuns — especialmente nas mulheres.
Vivemos numa sociedade construída durante séculos sobre uma estrutura patriarcal, onde o feminino foi associado à fragilidade, à dependência, à dúvida e à submissão.
Mesmo hoje, muitas mulheres crescem a ouvir — direta ou indiretamente — que precisam de provar o seu valor, ser fortes o tempo todo, não falhar, não parar.
Este padrão não é apenas cultural.
É energético, emocional e ancestral.
Carregamos uma ferida comum, partilhada por gerações de mulheres que tiveram de se adaptar para sobreviver — muitas vezes desconectando-se do corpo, da intuição e do próprio ritmo.
Por isso, tantas de nós vivem a tentar ser capazes para os outros:
-
capazes de aguentar;
-
capazes de dar conta de tudo;
-
capazes de não incomodar;
-
capazes de corresponder.
Mas… a que custo?
Quantas de nós fazem por obrigação aquilo que chamam de “ser capaz”?
Quantas vezes o “eu consigo” vem de um lugar de pressão interna e não de verdade interna?
Quantas vezes confundimos capacidade com autonegação?
Ser capaz não é fazer tudo.
Ser capaz é escolher com consciência.
E aqui nasce a armadilha: confundir capacidade com exaustão.
E tudo isto reflete-se na vida quando:
-
dizemos “sim” quando queríamos dizer “não”;
-
forçamos processos;
-
permanecemos onde já não faz sentido;
-
sentimos culpa por descansar;
-
precisamos de validação externa para avançar.
E, sobretudo, quando deixamos de nos ouvir.
Podemos dizer que a superação do "eu não sou capaz" envolve reconhecer que, por detrás da nossa limitação, existe uma herança de coragem, sabedoria e capacidade que é universal. Não somos apenas um produto das nossas experiências pessoais.
Então, "quem sou eu sem esta crença?" - Esta foi uma das perguntas mais transformadoras do meu caminho.
Quem sou eu sem a necessidade de provar?
Quem sou eu sem o medo de falhar?
Quem sou eu quando confio?
Ser capaz não é fazer tudo.
Ser capaz é escolher com consciência.
O “ser capaz” passa pela autoconfiança… e pelo auto-respeito.
Nas minhas aulas, ouço muitas vezes: “Não sou capaz.”, “Não consigo.”
E eu não permito que estas afirmações fiquem no ar — não por rigidez, mas por amor.
Ajudo cada mulher a perceber: isto não é um limite real, é uma crença.
Quando, dentro dos seus próprios limites, alcançam a postura, a respiração ou simplesmente a permanência… a frase muda: “Afinal… sou capaz.”
E esse momento vai muito além do corpo. Ele reescreve algo por dentro.
Mas também ensino algo essencial: ser capaz não é ultrapassar limites — é respeitá-los.
Auto-respeito é:
-
parar quando o corpo pede;
-
adaptar sem culpa;
-
honrar o ritmo;
-
não competir;
-
não forçar para provar nada a ninguém.
Surge o #movimentoeusoucapaz para:
-
criar consciência;
-
desmontar crenças;
-
apoiar processos reais;
-
lembrar que capacidade não é perfeição.
É um movimento coletivo, porque a cura também é coletiva.
Quando uma mulher se permite respeitar-se, ela abre caminho para outras fazerem o mesmo.
Eu sou capaz de me ouvir.
Eu sou capaz de respeitar o meu corpo.
Eu sou capaz de dizer não.
Eu sou capaz de viver alinhada comigo.
Fica a pergunta: "Onde ainda te dizes que não és capaz… quando, no fundo, apenas precisas de te respeitar?"


